sexta-feira, 28 de maio de 2010

É difícil ser Deus?

“Hard to be a God / Que difícil é ser Deus!” é o título do espectáculo de Kornél Mundruczó, integrado do alkantara festival 2010 (espectáculo em húngaro, com tradução simultânea em português), em Lisboa.

Parece claro que a peça não fala de Deus. Pelo menos a julgar pelo cartaz de onde tiro estas informações. “Objectos, pessoas e camiões num reality show onde estamos ansiosos por abandonar a posição do mirone. Permanecemos observadores ou tornamo-nos humanos?” Se calhar fala mesmo de Deus. Ao ver a confusão do mundo, Deus encarnou. Deixou a “posição do mirone”.

O que me interessa é a frase-título da peça. É fácil ou difícil ser Deus? Seria uma pergunta interessante num teste de teologia, mesmo que a tradução literal do titulo da peça seja antes "Difícil ser um Deus".

Fácil ou difícil? É difícil. Viu o Filho morrer. Sofre com a humanidade. É incompreendido, ignorado, odiado pela sua obra-prima. É fácil. Sabe como as coisas funcionam. Foi ele que as inventou. Conhece tudo. Sabe como a história acaba. É Ele quem manda.

E pensar sobre se é fácil ou difícil ser Deus o que significa? Que conhecemos algo de Deus? Que as categorias humanas se aplicam Deus? Que podemos dar instruções a Deus? Que sabemos como funciona Deus?

Lendo mais sobre a peça, aqui, vejo que, afinal, fala mesmo de Deus.

"O romance «Que difícil é ser Deus!» dos Irmãos Strugatski serve de inspiração para este espectáculo, examinado do ponto de vista da distância e responsabilidade divinas. Um infiltrado, que vê o que se passa mas não pode intervir, está presente como Deus, longe da alegria da criação, como observador dolorido. Até que o que há de humano nele prevalece, e tem de agir, mas conhecendo as leis sombrias do camião tem de usar os métodos deles: violência e destruição. Mostra-se o dilema da justaposição entre presença inactiva e vida activa num espaço confinado, questionando assim a própria posição do público. Objectos, pessoas e camiões reais num reality show onde estamos ansiosos por abandonar a posição do mirone. Permanecemos observadores ou tornamo-nos humanos?"

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