segunda-feira, 28 de junho de 2010

Rousseau e a mudança de mentalidades na Europa - o caso do paraíso

De um livro de três entrevistas sobre a felicidade que li há pouco, no dia em que Rousseau faz anos (nasceu há 298 anos), realço isto:

"Após a revolução científica, não foi a revolução das mentalidades que transformou a representação do paraíso?

Jean Delumeau – A segunda revolução é, com efeito, a dos sentimentos, que se pode datar, em França, pelo menos, da publicação d’A Nova Heloísa, de Rousseau. Nessa obra, um pastor protestante pede a Júlia, que está a morrer, que se desprenda dos bens deste mundo, do rosto dos seres amados, pois no além já não há marido nem esposa. Júlia contesta que, pelo contrário, espera poder amar no além aquele a quem não teve o direito de amar na Terra. A Nova Heloísa de Rousseau corresponde a uma mudança das mentalidades que atingia não só a França mas a Europa: a felicidade definitiva foi, desde então, cada vez mais identificada com a ideia de reencontrar aqueles que amámos e que nos amaram. O paraíso tornou-se assim – e continua a ser hoje – o lugar do reencontro com os entre os entes queridos. No entanto, esse tema do reencontro não é novo no cristianismo e não esperou pela revolução dos sentimentos e pela época moderna para ser realçado. Um jesuíta do século XIX, F. R. Blot, retomando uma obra dominicana anterior, esforçou-se por recensear todos os textos cristãos antigos nos quais tinha sido desenvolvido o tema do reencontro dos entes queridos no paraíso. O título da sua obra é significativo: Au ciel, on se reconnaît (1863). De facto, a aspiração a reencontrar no além os entes queridos perpassou toda a história cristã".

André Comte-Sponville, Jean Delumeau e Arlette Farge, A mais bela história felicidade, Texto & Grafia, páginas 72-73.

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