sábado, 28 de agosto de 2010

Dois livros de Raimon Panikkar

De Raimon Panikkar, tenho um livrinho e um livrão. O livrinho é “La experiencia de Diós”, 96 páginas na editorial PPC. O livrão é “El silencio del Buddha. Una introducción al ateísmo religioso”, 424 páginas nas Ediciones Siruela.

Não conheço muito do autor, mas é admirável a síntese intercultural e religiosa que fez na sua própria vida: filho de um industrial indiano e hindu e de uma catalã católica, estudou nos jesuítas e, ordenado padre em 1946, integrou e depois saiu do Opus Dei. Formou-se em Química, Teologia e Filosofia, andou por Roma, viveu e ensinou na Índia e nos EUA. Viveu os últimos anos na Catalunha natal.

Em “La experiencia de Diós”, Panikkar afirma que os lugares privilegiados para a experiência de Deus são o mal, o silêncio e o tu. Como deixa bem explícito que “a experiência de Deus não pode ser monopolizada por nenhuma religião, por nenhuma cultura, por nenhum sistema de pensamento”, alguns poderão não gostar da sua teologia e filosofia (um leitor deste blogue escreveu, comentando a entrada anterior: “Um verdadeiro campeão da heresia. Que Deus tenha piedade dele”). Perto do fim da vida, continuava a “dizer missa”, porque nunca deixou de ser cristão. Afirmava: “Saí cristão, descobri-me hindu e regresso budista sem deixar por isso de ser o que era no início” (“Salí cristiano, me he descubierto hindú y regreso buddhista, sin dejar por ello de ser lo primero”). Esta afirmação faz lembrar a resposta de Jean Guitton a uma pergunta de “O Independente” sobre o futuro do catolicismo. Dizia o francês que era a religião mais bem colocada para acolher todas as tendências, correntes e religiões, porque é, desde o início, católica, isto é, universal.

Em “El silencio del Buddha”, Panikkar relaciona a teologia apofática (ou negativa) do cristianismo com a “religiosidade” budista. Parece estimulante (só li o índice e parágrafos soltos), quando as religiões orientais continuam a exercer fascínio sobre o Ocidente (notícia destes dias: Julia Roberts, anteriormente católica, parece que se converteu ao hinduísmo) e, com frequência, se esquecem as tradições apofáticas, silenciosas, místicas, do interior do próprio cristianismo. Que Panikkar conhece.

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