quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Será verdade que "Povo de Deus" desapareceu?



José Comblin, o padre belgo-brasileiro, teólogo da libertação, "teólogo da enchada", morreu no dia 27 de Março de 2011. Mas há dias foi publicado um artigo dele sobre o Vaticano II, "50 anos depois".


Vale a pena ler. Alguns dirão, é claro, que é de evitar.


O que mais me impressionou foi a afirmação de que desde 1985 a expressão "Povo de Deus" foi eliminada do vocabulário do Vaticano. Ou seja, dos documentos do Magistério. Será verdade? Uma expressão com tanta raiz bíblica, a "Qahal" de Javé...


O artigo está aqui.

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Jorge,
Muito bem!
Vale a pena ler o artigo e é pena que não esteja completo pois há pelo menos uma parte em que não se percebe o corte realizado (5. alínea a) do 1º§ ao 2º§).
Sem querer fazer apologia, não estou de acordo em relação ao pormenor sobre o Povo de Deus. Se considerarmos as palavras do Papa como documento do Vat. então, bastará ler o Discurso do Papa Bento XVI na abertura do Congresso Eclesial da Diocese de Roma, em 2009, onde ele dá uma boa explicação sobre o Conceito (e penso que está na linha do expresso no Vat.II). E deve haver outros, com certeza...
Mesmo assim, José Comblin traça uma bela análise e há pontos em que realmente concordo. Por exemplo, é muito importante a referência ao Maio de 68. De facto, poucos fazem esta referência! Isto explica bem o problema que foi (e hoje isso reflecte-se) a não abordagem à Moral Católica pelo Concílio. Porém, se este a tivesse abordado, seria antes de 68 e logo não sei se pudesse antecipar a tal explosão moral das sociedades.
Talvez este seja o tempo para um Sínodo sobre este assunto... Ou talvez não faltem muitos mais anos.
De resto, Comblin é um adepto da Teologia da Libertação e escreve como tal. O seu olhar está repleto de análise política sobre a eclesialidade, sobretudo em relação aos corredores do Concílio. Ainda que estes (conservadores e liberais) possam movimentar uma estrutura como a Igreja - não o nego - não deixam de ser os cristãos (os "grandes" e os anónimos) os principais responsáveis por essas lutas internas. Como muitas vezes refiro aqui, não há por parte dos leigos estudo teológico suficiente (para não falar de algum clero menos dado a grandes visibilidades, ou seja, a maior parte). E atenção que para o estudo da teologia, ninguém proibe, nem inibe! Ela está aí, disponível a todos. Mas, atrevo-me a dizer que há inércia, preguiça e comodidade no mundo leigo!... Além da muita superficialidade na argumentação teológica.
O olhar histórico de Comblin vai neste sentido sem sequer o referir muito especificamente: «Por isso, devemos estimular a formação de grupos de leigos empenhados ao mesmo tempo com o evangelho e com a sociedade humana na qual atuam.»

Saudações,
Paulo Campos

Jorge Pires Ferreira disse...

Paulo Campos,
obrigado pelo seu comentário. Vou procurar o discurso que refere de Bento XVI. A referência à ausência do "Povo de Deus" pareceu-me pertinente porque, tanto quando posso reparar, há mais realce da Igreja como sacramento e comunidade da comunhão, ou a comunhão como centro da eclesiologia, na actualidade, do que como Povo de Deus, que era o acento aí até finais dos anos 80. Merecerá, com certeza, mais aprofundamentos.
Quanto à inércia, preguiça e comodidade no mundo leigo... Sem dúvida que existe. Mas falta, ainda em maior grau, o espaço para o desenvolvimento das capacidades dos cristãos - homens e mulheres - que querem colaborar.

Anónimo disse...

Caro Jorge Ferreira,
Muito obrigado pela sua resposta.
Mas continuo a não concordar com a falta de referências ao Povo de Deus nos últimos anos. Basta ler a Exortação Apostólica Verbum Domini para vermos mais de 20 utilizações da expressão Povo de Deus, no seu sentido bíblico, mas também eclesiológico. Além disso, considero que a questão central na Lumen Gentium não é o Povo de Deus, mas a Igreja como Sacramento Universal da Salvação. Esta realidade está estreitamente relacionada com o Povo de Deus, sim, pois este é o sujeito da Igreja, de cuja cabeça é Cristo, na unidade com o Pai e com o Espírito Santo. «Objecto da Constituição: a Igreja como sacramento» - aparece como título do ponto 1 da mesma. Nas verdade, penso que a argumentação de Comblin vai ao encontro da falta de atenção e consideração que por vezes o Vaticano parece atribuir aos leigos ou a algum clero... Porém, só posso discordar mesmo que me indiquem este ou aquele caso particular. Uma perspectiva demasiado "suspeita" sobre a Igreja, traduz-se numa argumentação da "suspeita". Já uma perspectiva teológica transpõe os argumentos para uma outra lógica. Veja, por exemplo, o livro de Domingos Terra,sj: O Sentido da Fé, que contém uma análise cuidada deste assunto (aqui tem uns excertos - http://www.snpcultura.org/vol_sentido_da_fe.html)
Por fim, se não for inconveniente e para, com agrado, aproveitar e continuar este diálogo, gostaria apenas de lhe perguntar algo que não compreendi. O que entende como sendo "o espaço para o desenvolvimento das capacidades dos cristãos" - refere-se a quê? Pode indicar-me algum exemplo?
Obrigado pela sua atenção.
Aguardarei pela sua resposta,

Saudações,
Paulo Campos

Jorge Pires Ferreira disse...

Paulo Campos, obrigado pelo que comentário, que, pela sua pertinência, vou chamar para o espaço principal do blogue. Quanto à minha observação sobre "o espaço para o desenvolvimento das capacidades dos cristãos", o esclarecimento fica para outra ocasião. Em breve.

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