quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Bento XVI governa a meio gás?



Marco Politi, que tem em português pelo menos um livro, “Adeus a Wojtyla” (Gráfica de Coimbra) escreveu uma obra crítica para Bento XVI (há tempos aqui referido). Diz que o Papa governa a meio gás porque está demasiado interessado nos seus livros.
Sabendo que não se pode ao mesmo tempo ser líder religioso-político e ficar concentrado em problemas teóricos tão importantes como o de explicar Jesus Cristo ao homem contemporâneo. Isso significa que a mente do papa, em algumas partes do dia, está concentrada em sua atividade de estudioso. Um jornalista também sabe que é difícil ser cronista e também escrever um livro. Imagine um papa.
O Papa está isolado:
Não só já não vê frequentemente os núncios – somente no início e no fim de suas missões: ele também não vê, um a um, os bispos em visita ad limina. Vê apenas as delegações, mas não fala com cada um. Falta-lhe muita informação sobre o que acontece no chão da Igreja. E isso o fecha em uma espécie de torre de marfim, em que predominam os problemas teóricos sobre a capacidade de enfrentar as questões concretas de modo inovador.
E a Igreja está numa tripla crise:
Vaticano e a Igreja estão atravessando uma crise tripla: de visão geopolítica – o Vaticano perdeu muito peso na cena internacional –, de relações ecumênicas. Há uma paralisia em todas as direções. Com os protestantes, o papa vai à Alemanha, faz um belo discurso sobre Lutero, mas depois não há novidades. Com os anglicanos, está tudo parado. O mesmo também acontece com os ortodoxos, que estão próximos e, no entanto, não houve progressos significativos. E há uma terceira crise interna: continua a grande falta de sacerdotes, razão pela qual muitas paróquias no primeiro mundo não têm pároco. E houve uma forte queda na presença das mulheres nas congregações femininas. Entre 2004 e 2009, perderam-se 40 mil freiras, o que significa um enfraquecimento da infantaria da Igreja.
Há então algum aspeto positivo neste pontificado? Politi responde o seguinte:
Conta muito a imagem de sobriedade que esse pontífice dá e, sobretudo, a sua pregação de um cristianismo simples, que não deve ser considerado como um pacote de proibições, mas sim como uma verdadeira identificação com a mensagem de Cristo e, portanto, ter uma fé consciente, mas também fortemente caracterizada pela solidariedade com o próximo e com o gênero humano. Frequentemente, há estereótipos sobre Ratzinger como o cardeal panzer. Mas, visto de perto, ele é uma personalidade muito calorosa, muito sensível, também com senso de humor. Ele acredita verdadeiramente que no mundo moderno o importante é um cristianismo testemunhado com simplicidade e convicção. Essa é uma grande mensagem. Ainda desde a sua primeira encíclica, ele enviou a mensagem de que o cristianismo, em seu núcleo, é uma religião de amor, justamente em uma fase em que há muito fundamentalismo religioso.
Os negritos são meus. Parece-me que o diagnóstico faz sentido. Ler tudo aqui.

7 comentários:

Anónimo disse...

Bamos lebar com ele até aos cem. Os alemães costumam ser rijos. Infelizmente digo eu.

Maria de Fátima disse...

Não concordo, de todo.
Acho que este Papa tem trabalhado bastante e ensinado mais ainda.É um homem autêntico e de verdade. No que me respeita, tenho progredido com ele no conhecimento de Deus.
Quanto à falta de Padres, sempre direi que penso que tal se deve mais a um imperativo de recentralização da missão do Padre, devendo este identificar-se cada mais com Cristo Senhor e não adaptar-se a "esquemas" instalados em Paróquias - não é para isso que Cristo os chama; devemos, todos nós em Igreja, valorizar cada vez mais essa identificação; desmundanizar a Igreja.E quanto mais mais progredirmos nesta purificação e renovação em Igreja, mais verdadeiras vocações surgirão. Cristo não chama homens para o sacerdócio para se tornarem homens mundanos e vulgares mas para O seguirem custe o que custar; para liderarem homens e mulheres nesse seguimento. Se é que me faço entender ....

Anónimo disse...

http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=48117

João Silveira disse...

Nem mais Maria de Fátima!

Só quem anda distraído, que pelos vistos é o caso do senhor de barba e do dono do blog, pode fazer uma avaliação destas do pontifício do Papa Bento. Leiam mais textos do Papa (muito raramente divulgados por aqui) e vejam as viagens do Papa, e aprendam, em vez de acharem que sabem tudo.

Jorge Pires Ferreira disse...

Caro João, eu não faço avaliações do pontificado de Bento XVI. Mas olhe que o Papa não está acima das críticas. Apenas "postei" parte da avaliação que um vaticanista, credenciado (não vi ninguém criticá-lo quando escreveu livros sobre João Paulo II) faz.
Quanto aos textos do Papa, até costumo lê-los. Muito mais do que provavelmente pensa. A finalidade do meu blogue não é divulgar textos de Bento XVI. Se fosse divulgar textos de alguém, preferia divulgar a Bíblia e clássicos da Igreja - como até tenho feito - antes de chegar a Bento XVI. Aliás, há outros que o fazem bem e gratuitamente(Ecclesia, ACIDigital, Vatican.va, etc.), como bem sabe.

João Silveira disse...

Caro Jorge, o blogue é seu e obviamente pode publicar o que lhe apetecer. No entanto para mim é esquisito que um católico publique qualquer texto escrito por hereges que tentam dividir a Igreja, para que não restem dúvidas falo do senhor frei bento domingues e senhor anselmo borges, em vez de publicar textos do Sumo Pontífice. Mas isto sou eu, que não sou um “cristão do reino”, como o Jorge. Sou dos maus.

Jorge Pires Ferreira disse...

Sr. João,

Se o Sumo Pontífice escrever crónicas semanais em jornais portugueses falando de questões que nos tocam, terei todo o gosto em publicá-las no meu blogue.

De resto, lá vou lendo o que o Papa diz escreve, e que, sendo pertinente e importante, raramente é imprevisível. É o papel dele.

Por outro lado, ainda em relação ao Papa, se o sr. João tivesse lido o recente livro-entrevista, talvez tivesse notado que três ou quatro vezes ele diz que gostava era de ser professor. Aceitou ser bispo, aceitou ser cardeal, aceitou ser papa, sim, mas sempre a pensar na sua biblioteca e nos seus livrinhos. Eu não o censuro por isso. São factos. Toda a pessoa tem os seus interesses.

Outro aspecto, ainda. Chama-lhe Sumo Pontífice. Um nome bonito, sim, porque quer dizer máximo criador ou fazedor de pontes, que é isso que é um pontífice. Portanto, lançando pontes a Bento, Anselmo, João, Jorge e seja que mais for. É isso que é ser católico: olhar mais para o que une do que para as diferenças.

Mas Sumo Pontífice também é um nome feio. Sumo remete para os sumo sacerdócio tão criticado pro Jesus - tenho cá para mim que ele nunca gostaria que lhe chamassem sumo sacerdote. Pontifex é um título do imperador, do poder, da honra e da glória. Demasiado conotado com os deste mundo para ser usado pelo sucessor dos apóstolos. Mas isto é a minha opinião. O sr. João, na sua vigilância,dir-me-á de imediato de estou a banalizar mais um dogma.

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No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...