terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Nós, os judeus, isto é, os únicos europeus



Todos os membros da minha família – de parte paterna e de parte materna – eram europeus devotos. Na verdade, eram grandes amantes da Europa. Conheciam os idiomas, as histórias, as culturas de cada país, estavam incondicionalmente afeiçoados à Europa. Infelizmente, nos anos 20 e 30, sucedeu que os Judeus, como os meus pais e a minha família, eram os únicos europeus da Europa. Todos os outros eram pangermanistas ou pan-eslavistas ou talvez apenas algum patriota português. O meu pai costumava dizer-me na brincadeira que na Checoslováquia havia três nacionalidades: Checos, Eslovacos e Checoslovacos, que somos nós, os Judeus. Na Jugoslávia, havia nove nacionalidades: Sérvios, Croatas, Montenegrinos, etc., e os Jugoslavos, que somos nós, os Judeus. E, naturalmente, na Grã-Bretanha, há os Ingleses, os Galeses, os Escoceses e os Britânicos, que, de novo, somos nós. Mas, entretanto, o amor pela Europa transformou-se em amor não correspondido. Se tinham sorte, eram expulsos a pontapé, caso contrário, não abandonavam a Europa com vida.

Amos Oz, Contra o Fanatismo, p. 69-70

2 comentários:

magal53 disse...

Gostei do Blog. Boa sorte

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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